Reclamação: um blocker para a produtividade no ambiente de trabalho

Por Shirley Fernandes (*)

Quem nunca se pegou resmungando e reclamando de algo ou alguém da empresa? Algum cliente que não atendeu as suas expectativas; algum processo mal elaborado, uma reclamação do posicionamento de alguém, reclamando de mudanças, de salários, da gestão, de um colega, entre outros tópicos relacionados.

E na contramão desses pensamentos, temos muitos outros que nos impulsionam a agir e reagir diante dos desafios, passando por cima destes desgastes, os deixando guardados em outra instância para focarmos na produtividade, não é verdade? É o famoso ‘engolindo os sapos’ e seguindo em frente.

A cada dia que passa, a gestão do tempo é vista como fator principal para termos ainda mais resultados. Grandes estudiosos de High Performance em Resultados sugerem mudarmos o nosso mindset, gerindo o tempo como se fosse o nosso dinheiro, porque aí sim não rasgaríamos dinheiro como ‘rasgamos’ o nosso tempo.

Nesta busca de administrar nosso tempo, a sensação de escassez de tempo para executar ações gerem ainda mais resultados, é que a reclamação entra em nossa agenda de forma tão elegante, gradual e sutil.


Refletindo sobre algumas demandas que líderes trazem para a mesa, vejo que a grande maioria tem uma reclamação raiz a ser endereçada. Ou é uma ação preventiva para mitigar reclamações, ou já é algo que não deu certo e virou uma reclamação geral a ser resolvida.

Por trás da reclamação existe um estado emocional, com mentalidade limitante no que tange a sentimentos de incapacidade, falta de pertencimento e muita insegurança. Ela entra como uma autodefesa diante da crença de incapacidade de resolução dos desafios e, com isso, a tendência é entrarmos no ciclo e ir gradativamente aumentando os espaços e intensidade, entrando invariavelmente em um estado de insatisfação plena.

Falando em ciclo, voltando às origens, qual a primeira manifestação do ser humano ao fazer o onboarding dele?

Assim que nascemos, ainda em um movimento inconsciente e muito intuitivo, nós reclamamos e choramos porque saímos da zona de conforto onde estava tudo bem dentro da barriga da mãe. Onde não era preciso fazer esforço para respirar, comer e se desenvolver. Ali, era tudo a mamãe que fazia. Nasceu! Agora, tem que fazer e aprender o novo e, principalmente, a se relacionar com outros.

Lendo acima, você consegue associar com algo similar no dia a dia no mundo corporativo?


Quando o resultado não sai como queríamos, o funcionário não entrega o que foi proposto, quando o número não aparece, quando a mudança não foi como queríamos, quando não ganhamos o que achamos justo, quando alguém faz malfeito o trabalho, quando a meta não é atingida, enfim, a lista é grande, e o que fazemos? Em que “flow” entramos na reclamação?

Percebo que no ambiente corporativo, a reclamação tem variações de ser nomeada, como por exemplo: “Não estou reclamando, apenas falando que não concordo”, “Isso não me fez bem”, “Cobrança em cima de Cobrança”, “Reconhecimento zero aqui”, Está tudo errado”, “Essa meta é surreal, não vou bater” e assim vai.

Tudo é lícito, mas nem tudo convém, já dizia o sábio, e a reflexão aqui neste artigo é: ‘Será que estou mesmo sugerindo, me debruçando em criar mecanismos para colaborar na resolução, ou apenas externando um sentimento sem uma estratégia por traz?’

Em qualquer resultado analisado, quando colocamos a reclamação como ponto de análise na convergência, o quadrante tende a cair radicalmente. Em um artigo do empreendedor Adam Heitzman, cofundador da Higher Visibility, ele destaca seis atitudes recorrentes em pessoas improdutivas, sendo que a primeira é a reclamação, onde o fazer se torna muito difícil e ser produtivo é tão desafiador que reclamar se torna o “mais fácil”.

Como se em um movimento regressivo quisesse voltar a zona de conforto, de dentro do ventre da mãe sem esforço nenhum e com tudo chegando. Essa analogia aparentemente hipotética, se torna real quando associamos a padrões de repetição instintiva de reclamações em cima de reclamações, em um contexto corporativo que na teoria não tem nada a ver com o ventre da mãe.


Permitir que a reclamação tome espaços na nossa agenda e, permitir que pessoas que reclamam entrem na nossa agenda para descarregarem suas frustrações, é um ponto de atenção. Assim, tenho por objetivo neste artigo gerar uma reflexão em todos nós de como sermos ainda mais produtivos, nos esvaziando e gerindo melhor este estado primitivo que todos nós temos.

Uma outra pesquisa foi realizada avaliando as características marcantes de um profissional produtivo de alta performance. Segundo este estudo, a primeira característica tem foco no objetivo e a segunda das seis analisadas, é que tais profissionais não reclamam, eles mantêm um comportamento positivo.

Gestão do tempo envolve muito autoconhecimento e controle emocional, o que explica que muitos planejam racionalmente a agenda e não consegue cumprir.
Com isso, trago para a discussão este assunto gerando reflexões e movimentos internos em você leitor, provocando entendimentos nos mecanismos sabotadores que retiram o foco do resultado e entregas com excelência.

Para finalizar, jamais comece uma semana difícil reclamando. Isso é um blocker mental para conseguir alternativas de resolução e meios para minimizar os desafios diários, que o mundo corporativo nos apresenta diariamente.

(*) Shirley Fernandes é sócia-diretora da N1 IT, empresa do Grupo Stefanini. A autora recebeu os prêmios ‘Líder que sabe lidar’ e ‘Leader Woman Cloud of the Year’, em 2021 e 2022, respectivamente.