Materiais para reformas são 73,4% das vendas do varejo de construção, diz estudo

Apesar disso, lojas especializadas vêm enfrentando queda no faturamento, enquanto a construção civil amplifica suas entregas e projeta ainda mais lucros para o futuro

O varejo de construção é a principal fonte de insumos para reformas caseiras. Segundo estudo realizado pela Obramax, 73,4% dos clientes deste tipo de empreendimento buscam por materiais para fazer reparos em casa. Já os outros 26,6% compram produtos mais pesados, utilizados nas etapas estruturais primárias de uma construção.

Entre as principais causas deste fenômeno, vale destacar a busca pela otimização do espaço residencial incentivada pela pandemia de Covid-19 – afinal, o tempo mais que as pessoas passaram em casa e, por isso, passaram a sentir maior necessidade de deixar o lar mais funcional e confortável para o descanso, lazer e até trabalho.

Além disso, há uma crença entre clientes de que reformar custa mais barato do que construir – no entanto, o levantamento aponta que o custo de uma reforma varia entre R$ 1 mil e R$ 5 mil. Ou seja: essa economia não é uma verdade absoluta, como reforçado por especialistas.

A arquiteta Pauline Moraes diz que a decisão de investir em reforma ou construção depende da avaliação de uma série de elementos. “Dependendo do nível de comprometimento da sua obra, isso pode se tornar uma reforma extremamente onerosa”. Em casos assim, ela diz, reformar um imóvel não seria a melhor solução.


Apesar dos altos números referente à busca por materiais de construção para reformas, o faturamento do setor vem sofrendo com baixos resultados. A Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) estima uma queda de 2,2% em 2022 em relação a 2021.

Em contrapartida, como afirma a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), a construção civil deve crescer 3,5% até o final do ano. A Câmara da Indústria da Construção da Federação de Minas Gerais (Fiemg), por sua vez, aponta que o desempenho das construtoras segue alto, com um aumento de 2,5% apenas no último trimestre.

Apesar de queda, varejo de construção é o que apresenta melhores números de vendas

Se comparado a outros setores, o varejo de construção foi um dos que menos sofreu com a pandemia de covid-19, até mesmo calculando um aumento no faturamento (11%) de 2020 em relação a 2019, conforme levantamento da FGV/IBRE.

Apesar disso, as lojas de materiais de construção assistiram a uma queda de vendas a partir do segundo semestre de 2022. A inflação e os juros altos são os maiores responsáveis por esse resultado.

Profissionais da área dizem que o desempenho do setor em 2023 deve manter o mesmo cenário. No entanto, dependerá de quais políticas econômicas serão adotadas pelo novo governo, inspirado pelo comportamento internacional e também pela recepção e diretrizes.


Aquecida, construção civil terá 2023 promissor

Enquanto o varejo acumula baixa de cerca de 5%, a construção civil caminha com uma performance animadora e que promove ainda mais louros.

Uma pesquisa da CBIC mostra que, entre março de 2020 e maio de 2022, a construção civil no Brasil registrou mais de 430 mil vagas de emprego, todas com carteira assinada.

A partir desses dados, a Prospect Analytica, especialista em soluções em Big Data, elaborou um estudo para projetar a expansão do setor em 2023. Caso a economia não tenha grandes perdas ou crises, a projeção é de uma alta de 4,5%.

Wanderson Leite, CEO da Prospecta Analytica, diz que esse índice será impulsionado pela estabilidade do valor dos materiais de construção e uma melhora na economia do país, o que geraria “uma confiança no consumidor” que impactaria “na venda de imóveis e em novos financiamentos”.

Também espera-se que as construções residenciais e reformas domiciliares tenham destaque no ano que vem. “Há um aumento de novos projetos elaborados para obras de planta baixa. Ou seja, essas construções serão realizadas nos próximos meses e irão continuar ao longo de 2023”, conclui Leite.


Por que o varejo de construção atende menos a construção civil?

Mesmo que sejam muito semelhantes, o varejo de construção e a construção civil têm uma diferença atual bastante significativa de resultados, este último com faturamento consideravelmente superior.

Embora a pesquisa da Obramax mostre um número vasto de consumidores de materiais de construção – principalmente com o intuito de reformar –, o desempenho das lojas vem caindo, enquanto as construtoras operam cada vez mais intensamente.

O presidente da Fiemg, Geraldo Linhares, explica que essa discrepância acontece porque as empresas de construção, responsáveis pelas obras formais, não encomendam seus materiais em lojas e depósitos especializados, mas, sim, diretamente com os fabricantes. Os únicos itens que não se encaixam nesse cenário são as tintas.

“[Os materiais] permaneceram praticamente sem acréscimo, com exceção do concreto, que subiu em função do aumento do cimento a granel”. Desta forma, segundo ele, a queda das vendas no varejo também está diretamente relacionada com a diminuição das obras informais, cujos consumidores são o público desse tipo de comércio.